domingo, 15 de fevereiro de 2015

O racionalismo e suas limitações

                 O que há de mais belo que o racionalismo?- O racionalismo sempre me pareceu uma boa forma de interpretar a realidade e acontecimentos que conhecemos, aliás, é ótimo livrar-se de muletas metafísicas e miragens que constantemente nos atrapalham o raciocínio. Entretanto me parece também que o racionalismo exagerado é também uma forma de fuga da realidade, levando em consideração que o meio em que nos encontramos é uma clara miscigenação entre acontecimentos e interpretações dos mesmos, sendo essas interpretações algo muito próximo à mística, principalmente pela clara subjetividade e particularidade de interpretação do mesmo acontecimento por dois diferentes expectadores.            
                 Não sendo possível desvencilhar os sentidos, de experiências já vividas pelo expectador, vemos como a interpretação da realidade se torna cada vez mais fugaz. Surgem constantemente dúvidas como: “Se dois sujeitos tivessem o mesmo passado, captariam o mundo da mesma forma?” ou “De que maneira a fisiologia (genética, predisposições, etc.) interfere na interpretação do universo?”. Tudo isto me deixa com a impressão de que existe sim uma mística, uma magia agindo em nosso meio: a mística dos sentidos, que se converge em pontos fundamentais com a “realidade lá fora”. Estamos, portanto, presos ao nosso modo comparativo de observar o mundo. Estamos presos a nós mesmos!            
               Olhando de certo ângulo o racionalismo é uma forma de tentar incessantemente livrar-se de si mesmo. Algo por si só indiscutivelmente prejudicial e utópico, um simples exemplo é o pai do racionalismo que por meio do modo racional de ver o mundo chegou à conclusão de que uma das ideias que é considerada por muitos algo improvável e até mesmo impossível é real: Deus. Digo isso, pois segundo a máxima racional de só crer no que é provável, “tangível” por assim dizer é uma grande contradição tomar como real algo totalmente improvável e intangível. Não seria, portanto, errado dizer que (nesse ponto) Descartes foi um místico fantasiado de racionalista, seria também bastante plausível dizer que Descartes sofreu um boicote de seu próprio pensamento. Aconteceu isso exatamente no momento em que tentava escapar de si. Vemos como é praticamente impossível ver o mundo fora de si, ver o mundo sem quem eu sou e tudo o que isso implica... Contento-me com a máxima nietzschiana: “A ciência não consegue explicar o mundo, ela consegue apenas descrevê-lo.”.

2 comentários:

  1. Excelente texto, Gabriel! Agrada-me muito esta frase de Nietzsche! Ás vezes creio seres tu tão génio quanto ele!

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    1. Obrigado! Que bom que gostou dessa frase, então é bem provável que gostará dessa animação (https://www.youtube.com/watch?v=Y68mGbvZZZg). Nossa, que elogio hein!? Mas não há nem comparação, Nietzsche é um mestre, nem me aproximo dele rs....

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