domingo, 24 de agosto de 2014

CAVALO DE PAU

Outro dia estava escutando a música “Cavalo de Pau” do Alceu Valença, e me veio à mente o RIO (aquele que já citei), a letra dessa música se encaixa perfeitamente em algo que percebo com bastante frequência em nós: O rio nos obriga a todo o momento deixar algo para trás, algo com o qual em certa medida já nos acostumamos, mas o real problema aparece quando o que temos que deixar para trás é algo que prezamos, aí a conversa fica séria, e as perguntas do tipo “Porque a vida tem que ser assim?”, o espírito de briga e a não aceitação aparecem. Entretanto a vida é sempre assim, funciona sempre a ferro e fogo, independente de nossa aceitação.

Nessa desconfortável situação a pergunta “o que fazer?” continua a ressoar, e tão despercebidamente como esse texto se formou a resposta a essa difícil pergunta surgiu. Na minha humilde concepção devemos fazer como  Alceu a ser obrigado a deixar seu “algo” para trás fez: guardou as lembranças (boas e ruins) de seu “algo”, se pergunta onde estaria agora seu cavalo criando assim espaço para formar-se e revelar-se a imaginação, não negar a importância de seu cavalo (mesmo que agora ele habite somente em memórias) e seguir a cantar a incerteza que é a vida. Quem sabe dessa forma toda a caminhada fica mais suave, e no mar de incerteza surja uma certeza: por mais que fique difícil seguirei a cantar!

domingo, 17 de agosto de 2014

PR'AONDE?

“Se o primeiro dever do homem é a realização
de si mesmo até seu limite, então toda
sociedade uniformizante é um pecado
imperdoável”
                                                                                              Gaiarsa
            Cores, falas, caras, roupas, gestos, olhares, enfim pessoas. Tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais, digo, nós costumamos a nos achar um tipo de ser diferente, com pensamentos tão secretos que com certeza são originais de nossa mente, mas somos tão repetidos como formigas em um formigueiro. O pior de tudo é que fomos acostumados a sermos iguais, a partir do nascimento tudo se torna uma grande fôrma que quer te modelar, te transformar no ser idealizado... Não quero render, aliás, tudo isso já foi falado aos montes, mas hoje tive a plena consciência que isso é verdade... As crianças sempre tão criativas, com perguntas tão intrigantes (para elas) e os pais sempre “cortando o barato” e com o tempo a curiosidade também, por exemplo: “A criança pergunta ao pai: Pai, por que a grama é verde? E o pai em sua rotineira falta de paciência diz: Porque sim, você queria que ela fosse azul?” E isso a longo prazo cria uma pessoa que não questiona, que aceita, que “engole” tudo que lhe é oferecido, e assim deu errado mais um experimento de sociedade.
            E nós, essas pessoas que foram as cobaias nesse experimento temos a plena sensação de sermos importantes, diferentes, originais... Quão ingênuos somos nós... Mas nesse constante jogo entre vida e ser vivo (nós) sempre imaginamos que nós é que escolhemos o que será, o que seremos, sempre nos vemos no controle de nossas vidas, entretanto chega um ponto em que somos somente empurrados e não há nada que se pode fazer, os papéis se invertem. Agora sim entendo a frase: “Afinal quem é a peça e que é o jogador?” do Humberto Gessinger... Vejamos que a vida está morrendo e quem a mata é a rotina, vejamos que nós estamos morrendo e quem nos mata é essa sufocante fôrma, vejamos que após morrermos seremos apenas seres que “morreram de vontade de viver”...

            Ah sim, se alguém tiver interesse aí embaixo está a música fonte daquela frase “Afinal quem é a peça e quem é o jogador?”:


domingo, 10 de agosto de 2014

Corpo

Contudo - se bem olharmos -,
Todos estamos nus, na voz,
No gesto
No rosto, nas mãos,
Na postura, no olhar...
 

               A preocupação em passar uma boa imagem é grande, e após uma conversa consideramos que passamos exatamente aquilo que queríamos, entretanto não enxergamos que passamos apenas as palavras que queríamos que representam uma pequena parcela da conversa. Todo o resto é exercido pelo nossa “linguagem corporal” e ela por sua vez quase sempre nos deixa totalmente desprotegidos, e exatamente aquilo que prezávamos, que queríamos esconder, que consideramos muito nobre ou podre o bastante para ninguém merecer ver é transmitido, e após alguma vivência percebemos quando a pessoa tenta nos esconder algo, que é por si só uma forma de se revelar. Que contradição não? Exatamente quando se espera estar protegido e se acredita estar, você não está, se olha em um espelho e se vê nu, ó, que horrível, não pode ser , grita seu interior!
                Quer dizer então que todas as pessoas andam cheias de coisas horríveis que tentam esconder a todo instante? Somos uma lixeira? Não é bem assim, aliás como já disse um pouco acima, com alguma vivência se vê aquilo que é normal, estável e aquilo que é estranho, falseado. Só após algum tempo vê se que aquilo que a primeira vista é espontaneidade na verdade se repete muito ao longo do tempo.
                Nesse constante jogo entre observador e observado tendemos a acreditar que por sermos observadores estamos isentos de nós mesmos, entretanto como já nos advertia Piaget ninguém está isento de si mesmo, aliás, só podemos ver os outros a partir de nossos olhos, de nossa perspectiva e isto é irremediável, portanto conhecer é comparar. Lembrando que até mesmo essa comparação que achamos ser tão profunda, a partir de hoje deixa de ser. Quero deixar também um breve e interessante trechinho do Gaiarsa:

                “Mas se mostro o que sou, como sou, o que sinto e o que vivi, então, meu ‘íntimo’ está por fora! Meu corpo é minha alma. Por isso não quero saber de meu corpo. Porque ele é eu. Porque ele é muito mais do que eu... Se o corpo não for meu, de quem será?”