domingo, 2 de outubro de 2016

VENCER

Ao dar um sermão em sua prole os pais sempre (ou quase sempre) recorrem a frases do tipo: “Você não quer ser ninguém na vida?”, “Como você vai vencer na vida com tal comportamento?” e coisas do tipo... Todos nós já escutamos pelo menos uma vez o apelo dos pais ao futuro que nos toca. Sendo assim, nada mais digno que usarmos uma parcela do nosso tempo para refletir sobre algo tantas vezes escutado: vencer na vida.
Em uma primeira e comum reflexão pode-se concluir que para a maioria vencer na vida é basicamente acúmulo de posses, de poder, enfim, a materialidade que nos rodeia. Desse modo, vence quem possui mais, o mundo torna-se uma grande arena e basta ter foco, trabalho árduo e um pouco de coração duro para subir no pódio dessa competição.
 Percepção diametralmente oposta é a de Marx, que denuncia a visão logo acima como sendo apenas um modo de fazer com que o trabalhador se empenhe cada vez mais em sua função, que produza mais, que gere mais lucro se motivando sempre com a possibilidade de “vencer na vida”. Seria então esta espécie de competição inútil e que no fim das contas não dá nenhum tipo de satisfação ao trabalhador. Apenas o faz se “sacrificar” em vão pelo dinheiro que nunca o pertencerá.
Haja visto a complexidade de se prender a modelos e ideologias prontas, muitos criam seu próprio conceito de “vencer na vida” e dessa forma justificam todo o esforço que desprendem no cotidiano. Há aqueles que acreditam que vence quem viveu o verdadeiro amor; quem foi feliz acima de tudo; quem se dedicou à caridade, etc.

Tenho que confessar que nunca gostei de competições, por isso tenho a impressão que o simples fato de encarar a vida como um torneio me aflige. Não consigo olhar pro mundo ao meu redor como um grande adversário a ser vencido. Dessa forma direciono meu olhar a mim mesmo e encontro as mais diversas falhas, arrogâncias, ignorâncias - e faço delas as verdadeiras inimigas a serem combatidas – vencendo minhas falhas e me superando no dia-a-dia espero chegar ao fim da caminhada e olhar pra trás com alguma dignidade e orgulho do caminho traçado. Seria isto, pelo menos para mim, vencer na vida.

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